Blog entry by NELSON COSTA FOSSATTI
Pueri, sacer est locus extra migite |
Nelson Fossatti /Prof. Dr. Administração e Comunicação PUCRS |
Quem estava no recente ato de formatura do curso de Administração da PUCRS,ainda deve ter presente os momentos e a essência do discurso acadêmico. Ainda é possível ouvir no eco de suas vozes,imagens transfiguradas de fé, de otimismo e esperança no Brasil de hoje. Os formandos manifestaram, em coro, sua indignação à administração pública do país.O lema era “chegou a hora da virada” queremos Administradores, administrando o setor Público, que “sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra”. Vezes nos questionamos se Administração Pública do país estaria retornando ao pensamento medieval ou sendo iluminada pelo oráculo de Delfus da civilização helênica. A quem interessaria confundir a figura do Administrador profissional, graduado em administração com aqueles que detém o título, não menos honroso de Gestor Público. Enquanto aquele busca(ad minister, ao serviço de)realiza os objetivos organizacionais de forma eficiente, eficaz e efetiva, através do planejamento, organização,liderança e controle.O gestor público, conforme sugere Bédard(1998), exige uma complementariedade, além de conhecer o serviço de ofício, exercer uma gerência, prestar serviços comprometidos, ou não, com algum pensamento político-filosófico, ser mandatário de um poder delegado, podendo também legar poder a outrem”.Nesta concepção, o gestor público deve além de ser um especialista, na área fim, ter conhecimento de algumas ferramentasde administração.Espera-se no mínimo,que saiba o “que fazer” e ter o discernimento de delegar para quem sabe o “como fazer”.Para isto é necessário que tenha algumas competências, como planejar,liderar,motivar,comunicar e controlar. Seria recomendado também, que tangenciasse algumas ferramentas da administração: administração de processos,estatística, Indicadores, avaliação e desempenho, contabilidade,finanças programas de qualidade,PPA,LDO, LOAs, parceriaspúblicas,ONG’s,OSCIP’s,RegimeJurídicoÚnico,estruturas-matriciais, Código do Consumidor e Lei de Responsabilidade Fiscal.A sociedade espera, bem mais do que ser apenas, detentor de responsabilidades administrativas, de delegação do Estado, de ser especialista na atividade de ofício, a qual foi conduzido, espera-se que seus pesadelos, na noite, estejam envolvidos também com a busca da eficiência, eficácia e efetividade do cargo que ocupa.No discurso “a hora da virada”os alunos de Administração, com justa razão,manifestaram, um estranhamento diante do atual critério de escolha de gestores públicos. Sugerindo um pensamento medieval de cavalariças.O historiador flamengo, Johan Huizinga,lembra que na idade média, o pequeno vassalo, o pajem, o escudeiro, antes de ser cavaleiro, deveria ser conhecedor do manejo da lança, da espada, de estratégias, posteriormente poderia ter a sorte de ajoelhar-se diante de seu senhor que lhe impunha o gládio, depois batia-lhe três vezes no ombro dizendo:"Eu te faço cavaleiro em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, de São Miguel e de São Jorge.Sê valente, destemido e leal”. Embora deploramos este sentimento,vivemos um surto de “cavaleiros gestores” que uma vez nomeados, atendem uma racionalidade instrumental, onde os traços de competência podem ser traduzidos pela notoriedade,número de votos,imagem política,potencialidade eleitoral, fisiologismo, clientelismo, apadrinhamento, nepotismo, etc. É preciso reconhecer, que chefes de estado estão fazendo gestores públicos como se faziam cavaleiros da idade média. Com uma ressalva àqueles eram competentes e estavam preparados.Os de hoje, traduzem sua incompetência, pelos excesso de gastos com a máquina pública, Cr$38 milhões apenas, em cartão de créditos, uma gula fiscal de Cr$ 769 bilhões , onde 40% é destinado para salários, o caos aéreo, as obras superfaturadas, os investimentos na “terra do nunca”, onde obras inacabadas,viadutos e pontes foram inaugurados em locais isolados do mundo.O medo e o temor nas cidades, contempla os vários exércitos às ruas, exército dos sem terras, dos sem teto e dos bolsa família.Uma esfera pública, onde tudo é surpresa, o país vive de sustos, de impactos econômico,sociais,e políticos. De outro lado, padece da ausência de Controle, parece não ter tempo para avaliar e corrigir seus rumos, é incapaz de avaliar os resultados, e estabelecer estratégias de médio e longo prazo, há ausência de eficiência não se mensuram a eficácia e a efetividade no atendimento das demandas.Quais os órgãos que estão pensando os resultados da gestão pública?A resposta aponta para alguns órgão públicos, que vem conquistando maior credibilidade junto a sociedade como MinistérioPúblico que defende os interesses sociais, possui poder de Estado com independência, Poder judiciário, a Policia Federal, o Tribunal de Contas e principalmente a Midia e profissionais de comunicações,que a todo momento informam e dão visibilidade aos fatos.No discurso dos acadêmicos,“a Hora da virada”apontou, certa falta de respeito tanto para com os profissionais de Administração como outras profissões. O conselho Regional de Administração –CRA informa que o Estado possui 86 escolas de Administração, 24.500 administradores.Poderíamos perguntar quantos administradores estão atuando como gestores na esfera pública? Seria possível contar cem? Enganam-se aqueles que pensam ser possível aguardar 40 anos para “hora da virada”,e deixar de enfrentar estas verdades. Todo professor convive com estas verdades, quer em sala de aula, quer no dia adia com seus alunos.Alguma coisa está acontecendo, uma nova geração, talvez... a ética e o idealismo profissional, quem sabe, estão sendo eficazes. Para aqueles que ainda estão no lugar errado, talvez seja possível invocar, o citado poeta romano,Aulo Pérsio(62d.C.) nas suas Sátiras I,(115), lembra que na antiga Grécia se respeitava pelo menos os lugares santos.Quando alguns homens irresponsáveis se comportavam como meninos e tinham incontinência urinária nos templos ou lugares sagrados, havia um oráculo amigo que os mandavam para outro lugar, “menino, o lugar é santo vai fazer xixi lá fora” puri sacer est locus estra migite.
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