Interventi Blogi di ANA MARIA DE SOUZA MELLO
Entrevista dada ao blog Zuggi por Débora Sebriam
Parte 1 – falo sobre tablets, segurança na internet e Recursos Educacionais Abertos.
1) Como as novas tecnologias podem contribuir para a educação dos alunos?
A tecnologia sozinha não muda nada. Sem mudarmos o modelo autoritário e unilateral que perdura há tempos na educação, o que ocorrerá é uma extensão do meio tradicional de ensino também para o “meio tecnológico”. Temos que ter em mente que a tecnologia potencializa as relações humanas e as trocas advindas desta relação é que gera o conhecimento e não propriamente o uso de uma tecnologia específica.
A educação é (ou deveria ser) um processo que dura toda a vida e não somente os anos obrigatórios de escola. A tecnologia na escola permite fazer essa ponte, trabalhar com os conteúdos de forma mais dinâmica, gerar o protagonismo dos alunos, possibilitando a interação entre eles e professores dentro e fora dos muros da escola, dando significados reais ao cotidiano e não somente para um fim específico que “morre” ao término do trabalho.
2) Sabemos dos perigos da internet para a formação e informação dos alunos. Quais cuidados um professor deve ter para utilizá-la em sala de aula?
Este é um tema super importante e muitas vezes esquecido ou simplesmente ignorado pelas escolas, acredito que isto ocorre devido a falta de informação e de um consenso sobre de quem é este papel, família ou escola? Eu diria que a responsabilidade é de todos. Acho que o tema sobre uso seguro da internet e telas digitais deveria ter lugar privilegiado nas instituições de ensino, assim como, penso que as famílias têm que despertar para a importância de orientar seus filhos e não transferir a responsabilidade toda para a escola. Mas como educar para o bom uso das telas digitais quando não sabemos como intervir, seja por falta de formação ou conhecimento sobre o assunto? Vou tentar dar algumas dicas baseada na minha experiência.
Atualmente, desenvolvo no Centro Educacional Pioneiro o projeto Comportamento, Segurança e Ética na Internet. Este projeto teve início em abril de 2011 e está estruturado em 3 fases:
- Fase 1: sensibilização (debates com alunos, professores e pais)
- Fase 2: produção de conteúdo (alunos autores criarão cartazes, folders, blogs, vídeos, sites e todo tipo de mídia da ESCOLHA DELES)
- Fase 3: disseminação (estamos estudando licenciar todo material em Creative Commons e compartilhar na rede)
Nós completamos a fase 1 este ano, integrando e chamando a participação toda a comunidade escolar: alunos, professores e famílias! Esta fase se baseou no debate, eu trouxe exemplos e questões norteadoras adequadas a cada faixa etária, nesta fase todos tinham o direito a palavra, a esboçar suas opiniões, o conhecimento foi construído colaborativamente. Vejam que é muito diferente de dar uma palestra, nosso processo não é unilateral e nem centralizador, ele é baseado no grupo e no compartilhamento!
Nestas dinâmicas que chegaram a durar 3 horas seguidas sem que ninguém sequer esboçasse vontade de ir embora, nós falamos sobre alguns temas gerais como:
- Compartilhamento de dados pessoais,
- Privacidade,
- Mundo real x mundo virtual,
- Comportamento nas redes sociais,
- Compartilhamento de imagens e vídeos,
- Videogames e games online,
- SMS,
- Sexting,
- Uso da Webcam,
- Ciberbullying,
- Cidadania online.
Para introduzir todos estes assuntos pesquisei os “memes” e “virais” que os alunos tanto falam pelos corredores, editei um vídeo com as pessoas (crianças, adolescentes e adultos) que caíram nas redes por descuido ou vontade própria e trabalhamos com exemplos práticos que ocorreram nas redes sociais e que são conhecidos de todo adolescente conectado. Fizemos o exercício de nos colocar no lugar do outro e pensar sobre nossos sentimentos em relação às situações abordadas para trabalhar questões como respeito, ética e solidariedade, assim como falamos das vantagens e perigos ocultos nas interfaces e ferramentas mais usadas por eles.
Para chegar a este modelo consultei materiais pré-fabricados que trazem informações gerais e que aconselho a todos que precisam de informações iniciais sobre o assunto, como:
Cartilha da Safernet: http://www.safernet.org.br/site/prevencao/cartilha/safer-dicas
Internet Responsável: http://www.internetresponsavel.com.br
Cartilha da OAB: http://www.oabsp.org.br/comissoes2010/crimes-alta-tecnologia/cartilhas
Criança mais Segura: http://www.criancamaissegura.com.br/cartilhas.php
Proyecto Centinela: http://www.proyectocentinela.com/
Pantallas Amigas: http://www.pantallasamigas.net/
Acho que não existe receita de bolo, faça uma pesquisa inicial com seus alunos, descubra as redes e ferramentas que usam e participam, descubra com eles o que é assunto no momento e porque eles se interessam por eles, trace o perfil sobre quem é seu aluno no mundo digital e o que eles consomem e produzem, integre-se! Acho que este é o melhor ponto de partida.
3) Já existem escolas nos EUA que aboliram os livros didáticos, ou melhor, colocaram todos eles nos tablets dos alunos. Você acredita que isso se tornará uma tendência aqui no Brasil também? Os livros de papel se tornarão peças de museus?
Essa parece ser uma tendência não somente para o Brasil, mas para a grande parte dos países. A Índia, por exemplo, anunciou há algumas semanas tablets muito baratos para serem distribuídos nas suas escolas, já no Brasil, o governo prometeu isenções fiscais significativas para facilitar o acesso. Apesar de facilidades de acesso estarem em prioridade, quando se trata de livro didático acredito que no Brasil as duas versões vão coexistir por muito tempo ainda, nós ainda “precisamos” do papel.
Uma questão importante também quando pensamos em livro é pensar na produção destes materiais. As grandes editoras brasileiras estão trabalhando para oferecer versões digitais com alguns recursos adicionais de seus livros impressos, mas pelo menos por enquanto, não sinto que estão descartando a venda de material impresso.
Outro ponto importante é que não deveríamos ser meros consumidores de material didático, eu acredito e aposto na produção colaborativa de professores e alunos. Imagine escolas que compartilham e remixam seus próprios materiais educacionais para atender suas demandas internas e regionalidades, fortalecendo o acesso e a distribuição do conhecimento e da cultura livre? Estou falando aqui da filosofia dos Recursos Educacionais Abertos, que são basicamente quaisquer materiais educacionais que possam ser alterados, remixados e compartilhados livremente por qualquer pessoa, incluindo professores e alunos, que podem deixar de ser meros consumidores de informação para se tornarem autores e contribuidores na produção e disseminação do conhecimento.